Aprendendo a se informar...

Informar, discutir e criar numa perspectiva de diálogo entre sujeitos e saberes, visando à promoção da cidadania com base na liberdade de investigação científica e na dignidade da pessoa humana. Visite também: http://clinicadotexto.wordpress.com/

terça-feira, 10 de março de 2009

Homem X Biblioteca

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"Tenho a suspeita de que a espécie humana - a única - está prestes a extinguir-se e que a Biblioteca perdurará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta"
(Jorge Luís Borges)
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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

MATA ATLÂNTICA: UM GIGANTE DESCONHECIDO...


A floresta inesperada


Mais rica em biodiversidade, a Mata Atlântica é mais pobre do que a Amazônia em nitrogênio

Esse trabalho, iniciado em 2003, mostrou que a floresta mais próxima das maiores cidades do país ainda é muito pouco conhecida, em contraste com a Amazônia, que começou a ser examinada há pelo menos quatro séculos com os naturalistas europeus. “Saber mais da Amazônia do que da Mata Atlântica, muito mais próxima de nós, é inquietante”, observa Luiz Antonio Martinelli, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do grupo que reúne especialistas em solo, plantas e atmosfera, dispostos a construir uma visão ampla e integrada da floresta atlântica brasileira.

Os botânicos foram os primeiros a perceber que o nitrogênio na Mata Atlântica não seria tão abundante quanto na Amazônia. Como base de todo o trabalho, quase 15 estudantes e auxiliares de pesquisa percorreram as 14 áreas de estudo – cada área mede um hectare (10 mil metros quadrados) de mata com a vegetação mais preservada possível em três faixas de altitude (5 a 50 metros, 50 a 500 e 500 a 1.200) nos municípios de Ubatuba e São Luís do Paraitinga. Coordenados por Simone Vieira, engenheira agrônoma da USP, e Luciana Alves, bióloga do Instituto de Botânica, eles tinham de encontrar e marcar com uma pequena placa metálica todas as árvores, mesmo as ainda em crescimento, com pelo menos 4,8 centímetros de diâmetro. No total, 28 mil árvores.

Os botânicos verificaram que as representantes da família botânica das leguminosas como o jatobá, o pau-ferro e o jacarandá não eram tão abundantes por ali quanto na Amazônia. As árvores da família das leguminosas são importantes para toda a floresta porque, mais do que outras espécies, captam nitrogênio da atmosfera por meio da associação das raízes com grupos de bactérias do gênero Rhizobium. Inicialmente o utilizam para elas próprias e depois o distribuem para outras plantas, quando as folhas caem e o nitrogênio se espalha no solo e nos rios.

Enquanto os botânicos examinavam as plantas, Luiz Felippe Salemi e Juliano Daniel Groppo colhiam água da chuva. Depois a examinaram em Piracicaba nos aparelhos do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), sob a orientação de Martinelli, e encontraram muito pouco nitrogênio na água da chuva e dos rios, no solo e nas folhas das árvores. “Pensamos que os equipamentos estivessem errados”, conta Martinelli. Aos poucos concluíram que a Mata Atlântica deveria funcionar de modo totalmente diferente do que haviam pensado, talvez com metade do já pouco nitrogênio encontrado na Amazônia, embora mais do que nas florestas temperadas européias, bastante modestas em biodiversidade se comparadas com as da América.

Martinelli ainda não sabe se a escassez de nitrogênio seria uma das razões para o fato de a Mata Atlântica ser uma das florestas mais antigas do mundo, com cerca de 65 milhões de anos, ou se a Mata Atlântica viveu tanto porque sempre contou com pouco nitrogênio. Ele acredita que comparações com um ambiente natural bem diferente, o Cerrado, cujas plantas se adaptaram à escassez de nutrientes e de água, poderiam ajudar a explicar como a floresta tropical litorânea abriga uma riqueza biológica, medida pela diversidade de espécies de animais e plantas, se consideradas as epífitas como orquídeas e bromélias, até três vezes maior por metro quadrado que a da Floresta Amazônica, muito mais rica em nitrogênio.

Árvores com pressa

Ao menos agora estão claros os contrastes não só entre as maiores florestas do Brasil como também no interior da própria Mata Atlântica. As matas de altitude mais baixas crescem e vivem – funcionam – de modo diferente que as de altitudes mais elevadas, como se fossem organismos distintos. Os solos das matas de 5 a 50 metros de altitude são rasos (não passam de 30 centímetros) e ainda mais pobres em nutrientes que os dos terrenos de 800 a 1.200 metros. De acordo com os resultados obtidos até agora, nas matas baixas as plantas parecem ter pressa e absorvem nitrogênio diretamente das folhas que caem sobre o solo – sem esperar o valioso nutriente misturar-se à terra e formar a espessa camada de material orgânico do solo das matas altas, onde o nitrogênio circula mais lentamente. Nas matas mais próximas da praia a quantidade de chuva corresponde à metade da que cai nas matas no alto da serra, imersas em neblina pelo menos 200 dias por ano. Nas altitudes mais elevadas as árvores são mais encorpadas, além de apresentarem uma densidade maior que nas matas baixas. “Não dá mais para dizer que a Mata Atlântica, indistintamente, funciona de um jeito ou de outro”, afirma Joly.

Simone Vieira e Luciana Alves também estimaram a biomassa – a quantidade de carbono armazenado principalmente nas árvores, palmeiras e samambaias – da Mata Atlântica. Reuniram informações sobre o diâmetro, a altura e a densidade da madeira de quase 30 mil árvores e concluíram que a biomassa da vegetação da Mata Atlântica pode variar de 80 toneladas de carbono por hectare nas florestas mais próximas do mar a 120 toneladas nas matas da encosta e do topo da serra. “É uma quantidade de carbono muito maior do que a que esperávamos”, afirma Simone. Essa biomassa sugere que a Mata Atlântica tem uma capacidade elevada de armazenar carbono orgânico, ainda que por mecanismos ainda misteriosos, porque a quantidade de nitrogênio que recebe não deveria levar a árvores tão encorpadas.

A estimativa de biomassa indicou que cada hectare de Mata Atlântica desmatado implica a emissão de pelo menos 100 toneladas de carbono, semelhante à faixa mínima de emissão da Amazônia (a queima de um hectare de Floresta Amazônica, dependendo da densidade e da composição, implica a emissão de 100 a 200 toneladas de carbono). “Demoramos cinco séculos para conhecer a biomassa, um dado básico sobre a Mata Atlântica”, reconhece Martinelli. Sua indignação mistura-se com o prazer de terem encontrado um ser gigantesco tão próximo que permanecia tão desconhecido e certamente guarda muitas outras surpresas.

© Eduardo Cesar
Litoral norte paulista: floresta de 65 milhões de anos

Projeto: Composição florística, estrutura e funcionamento da floresta ombrófila densa dos núcleos Picinguaba e Santa Virgínia do Parque Serra do Mar

Modalidade: Projeto Temático – Programa Biota FAPESP

Coordenadores: Carlos Alfredo Joly (Unicamp) e Luiz Antonio Martinelli (Cena-USP)

Investimento:
R$ 2.576.067,24 (FAPESP)

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Fonte: FAPESP, Edição Impressa 154 - Dezembro 2008. Disponível em: http://www.revistapesquisa.fapesp.br/index.php?art=3716&bd=1&pg=1&lg=


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

“Se Deus não existe, então tudo é permitido” - Dostoievski


Sobre a obra
: Crime e castigo

Uma novela policial que ultrapassa de longe a fronteira de seu gênero. Um estudante de direito sem dinheiro, inquilino de uma agiota, com uma irmã à beira de um casamento por interesse e uma mãe passando necessidades. O fermento para um possível crime está armado e é nesse drama que mergulha o personagem Rodion Raskolnikov.

A cada capítulo, uma revelação e um mote para um dos debates mais antigos da humanidade: existe o direito de matar?

Publicado em 1866, o livro "Crime e Castigo" foi sucesso imediato na Rússia e acabou alcançando rapidamente o status de um dos clássicos da literatura mundial.

Sobre o autor: Dostoiévski

No dia 11 de novembro de 1821, em Moscou, nasceu Fiódor Mikhailovich Dostoiévski, um dos mais célebres escritores da humanidade e considerado um dos pais do existencialismo. Estudou em escola militar e tinha epilepsia, à semelhança do escritor brasileiro Machado de Assis.

Tradutor e desenhista, foi preso por agitação social em 1849 e condenado à morte. Já no patíbulo, prestes a ser enforcado, a sua pena foi comutada por quatro anos em um presídio na Sibéria.

Aclamado em vida pela crítica literária da época, Dostoiévski morreu no dia 9 de fevereiro de 1881 em São Petesburgo.

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Fonte:http://www.livroclip.com.br/index.php?acao=hotsite&cod=6#


Comentário “EducaRede”

Uma das obras mais conhecidas de Dostoiévski, esse livro conta a história de Raskólnikov, um jovem estudante de São Petersburgo (Rússia) que abandona a faculdade por falta de dinheiro. A família e amigos convivem com a miséria e a falta de perspectiva, tendo de submeter-se a situações humilhantes para sobreviver. Para se manter, Raskólnikov apela para a penhora de pequenos objetos de estimação familiar que negocia com Aliena Ivanóvna, uma velha e impiedosa usurária.

Homem extremamente sensível e erudito, Raskólnikov cria a teoria do crime permitido, baseado em uma divisão das pessoas em “ordinárias” e “extraordinárias”. Ao analisar os grandes assassinos da História, entre os quais inclui Napoleão, chega à conclusão de que certos assassinatos, quando executados por pessoas “extraordinárias”, acabam beneficiando a sociedade. Decide, com base nessa teoria própria, fazer um bem à sociedade matando a velha usurária que o explora.

Todo o livro, então, passa a contar o sofrimento do nosso herói, advindo da idéia desse assassínio. Muitos personagens se mesclam à trajetória de Raskólnikov, e a interação entre eles se dá por uma das marcas do estilo de Dostoiévski, a polifonia. Trata-se de uma engenhosa arquitetura de vozes que se provocam, sondam-se mutuamente, antecipam réplicas.

Crime e Castigo foi escrito na fase madura do escritor, cujas reflexões filosóficas e experiência literária aparecem em sua melhor forma. A única tradução do livro direta para o português do Brasil saiu em 2001, pela editora 34. Mas há várias outras boas traduções para a nossa língua.

Fontes consultadas

Café Dostoiévski: http://www.cafedostoievski.pop.com.br/dostoievski/index2.html, visitado em 08/02/2006.

BEZERRA, Paulo. “Nas sendas de Crime e Castigo”. In: Crime e Castigo, Fiódor Dostoiévisk, São Paulo: Editora 34, 2001.

ARBAN, Dominique. Dostoievski. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1989.

EDUCAREDE. Disponível em http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=biblioteca.interna&id_livro=182

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terça-feira, 4 de novembro de 2008

HINO AO SONO, Castro Alves


Ó Sono! Ó noivo pálido
Das noites perfumosas,
Que um chão de nebulosas
Trilhas pela amplidão!
Em vez de verdes pâmpanos,
Na branca fronte enrolas
As lânguidas papoulas,
Que agita a viração.

Nas horas solitárias,
Em que vagueia a lua,
E lava a planta nua
Na onda azul do mar,
Com um dedo sobre os lábios
No vôo silencioso,
Vejo-te cauteloso
No espaço viajar!

Deus do infeliz, do mísero!
Consolação do aflito!
Descanso do precito,
Que sonha a vida em ti!
Quando a cidade tétrica
De angústia e dor não geme...
É tua mão que espreme
A dormideira ali.

Em tua branca túnica
Envolves meio mundo.
E teu seio fecundo
De sonhos e visões,
Dos templos aos prostíbulos
Desde o tugúrio ao Paço,
Tu lanças lá do espaço
Punhados de ilusões!...

Da vide o sumo rúbido,
Do hatchiz a essência,
O ópio, que a indolência
Derrama em nosso ser,
Não valem, gênio mágico,
Teu seio, onde repousa
A placidez da lousa
E o gozo de viver...

Ó sono! Unge-me as pálpebras..
Entorna o esquecimento
Na luz do pensamento,
Que abrasa o crânio meu.
Como o pastor da Arcádia,
Que uma ave errante aninha...
Minh'alma é uma andorinha...
Abre-lhe o seio teu.

Tu, que fechaste as pétalas
Do lírio, que pendia,
Chorando a luz do dia
E os raios do arrebol,
Também fecha-me as pálpebras...
Sem Ela o que é a vida?
Eu sou a flor pendida
Que espera a luz do sol.

O leite das eufórbias
P'ra mim não é veneno...
Ouve-me, ó Deus sereno!
Ó Deus consolador!
Com teu divino bálsamo
Cala-me a ansiedade!
Mata-me esta saudade,
Apaga-me esta dor.

Mas quando, ao brilho rútilo
Do dia deslumbrante,
Vires a minha amante
Que volve para mim,
Então ergue-me súbito...
É minha aurora linda...
Meu anjo... mais ainda...
É minha amante enfim!

Ó sono! Ó Deus noctívago!
Doce influência amiga!
Gênio que a Grécia antiga
Chamava de Morfeu,
Ouve!... E se minhas súplicas
Em breve realizares...
Voto nos teus altares
Minha lira de Orfeu!


Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=86837

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Safo de Lesbos: Rósea lua que supera todas as estrelas... Tua beleza mata a minha sede

Safo era maravilhosa pois em todos os tempos que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em matéria de talento poético. (Estrabão)

Há quem afirme serem nove as musas. Que erro!
Pois não vêem que Safo de Lesbos é a décima?
(Platão)

Sobre “a poetisa”

A poetisa grega Safo (Psappha - como a própria assinava no dialeto eoliano) nasceu em 612 a.C. na ilha de Lesbos. Foi reconhecida por sua beleza e talento por filósofos como Sócrates e Platão. Boa parte de seus versos glorificava a homossexualidade, fato que fez cristãos destruírem grande quantidade de seus escritos, por se acreditar que as suas poesias eram imorais. As jovens mulheres da ilha de Lesbos que freqüentavam seu círculo literário – de forma a serem iniciadas nas artes da dança, da poesia, da música e também do amor –, compunham o seu círculo de amizades. Formadas por ela, essas jovens a deixariam um dia para se casar.

Escola de hetairas: as cortesãs gregas


Concebeu Safo uma escola para moças, onde lecionaria a poesia, dança e música - considerada a primeira "escola de aperfeiçoamento" da História. Ali as discípulas eram chamadas de hetairai (amigas) e não alunas... E a mestra apaixona-se por suas amigas, todas... dentre elas, aquela que viria a tornar-se sua maior amante, Atis - a favorita, que descrevia sua mestra como vestida em ouro e púrpura, coroada de flores. Mas Atis apaixona-se por um moço e, com ciúmes, Safo dedica-lhe os versos:
Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado,
te contemple e, em silêncio, te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;
o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (...)
Atis, sua amiga e aluna predileta, foi retirada da Escola por seus pais. Indignada, Safo escreve que "seria bem melhor para mim se tivesse morrido":

fr.74 R

Pôs-se a lua

e as Plêiades; é meia

noite, passa a hora

e eu sozinha estou deitada

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Safo, por Olimar F. Júnior

fr. 1 V

Imortal de colorido trono, Afrodite,

filha de Zeus, ardilosa, suplico-te,

não me submetas com gemidos nem angústias,

senhora, o coração.

Mas vem cá, se uma vez

os meus lamentos ouvindo de longe

atendias e, deixando do pai o palácio

dourado, vieste

com a carruagem atrelada: belos te conduziam

ligeiros pardais ao redor da terra negra,

espessas asas agitando do alto,

pelo meio do céu

depressa avançavam. E tu, ó bendita,

sorridente com a imortal face

perguntaste por que sofri

por que chamei

e o que, mais que tudo, quero cultivar

no meu louco coração: "quem, desta vez, pela persuasão

buscas conduzir para tuas relações mais íntimas? Quem,

ó Safo, te faz sofrer?

Pois se foge, rapidamente perseguirá.

Se nem presentes aceitava, logo dará.

E se não ama, rapidamente amará

mesmo não querendo.

Vem até mim também agora, alivia a penosa

aflição e quanto cumprir

meu coração deseja, cumpre: tu, assim,

sê minha aliada.

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Safo, por Jacyntho Lins Brandão

fr. 16 V (v. 1-4)
Uns de cavaleiros armada, outros de infantes,
outros de naus dizem sobre a terra negra
ser o mais belo - eu, aquilo
que alguém ama.

fr. 31 V
Parece-me aquele igual a deuses
ser, o homem que diante de ti
se senta e perto tua doce fala
escuta
e teu riso sedutor - o que, a mim,
o coração no peito dilacerou!
Pois com te olhar apenas, já nada falar
mais me é dado.
Faz-se minha língua em pedaços e, fino,
logo sob a pele um fogo corre.
Com os olhos nada vejo e ribombam-me
os ouvidos.
De mim suor frio escorre e um tremor
toda me prende. Mais verde que erva
estou - e bem morta, por bem pouco,
pareço...
Mas tudo é para ousar...

fr. 34 V
estrelas em volta da lua bela
de novo escondem a luminosa face
quando mais cheia ela brilha
sobre a terra


fr. 47 V
............................. E Eros sacode-me
as entranhas, como o vento de sobre o monte nos carvalhos caindo.

fr. 130 V
Eros de novo a mim, o soltamembros, agita,
doce amargo indomável animal.
Ó Átis: a ti, em mim, fez-se odioso
pensar - e para Andrômeda voas.

Leia a obra

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=3449

Bibliografia

· LESBOS, Safo de. Poesia completa. Rio de Janeiro, 1990.
· ANTUNES, A. A. Safo: tudo que restou. Além Paraíba (MG): Interior, 1987.
· FONTES, J. B. Eros, tecelão de mitos: a poesia de Safo de Lesbos. São Paulo: Estação Liberdade, 1991.
· MALHADAS, D. & MOURA NEVES, M. H. Antologia de poetas gregos de Homero a Píndaro. Araraquara: FFCLAr-UNESP, 1976.
· SAFO DE LESBOS. Trad. P. Alvim. São Paulo: Ars Poetica, 1992.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

De sua poltrona ele governava o mundo: a metamorfose

Sobre a obra A metamorfose, de Franz Kafka

A Metamorfose é uma das mais conhecidas obras de Franz Kafka. Foi escrita em 1912, quando o autor tinha 29 anos.

Na história, um homem acorda transformado em um inseto e precisa aprender a lidar com a nova situação.

Trata-se de uma revelação do desespero humano perante o absurdo e opressão do mundo.



Sobre o autor

Franz Kafka nasceu em 3 de julho de 1883 na cidade de Praga, que na época estava sobre influência da monarquia austro-húngara. Era filho de um comerciante judeu, o que fez com que as culturas judaica, tcheca e alemã marcassem a sua formação.

Formou-se em Direito e exerceu cargos burocráticos durante a vida marcada pela solidão e por uma relação conturbada com o pai.

Além de A Metamorfose, outras obras célebres são “O Processo” (1925), "O Castelo" (1926), além de vários contos e diários, como “Carta ao Pai” (1919).

Suas obras são marcadas por uma atmosfera asfixiante e opressora, com situações de angústia que culminaram na criação do adjetivo “kafkiano”.

Kafka não obteve fama e sucesso com seus livros em vida, sendo a maioria editado postumamente por iniciativa do amigo Max Brod.

O escritor morreu em 3 de junho de 1924, vítima de tuberculose.

fonte: http://www.livroclip.com.br/?acao=hotsite&cod=5

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

PARA ALGUNS AMIGOS...

...

o som da esperteza
o som do céu e do mar.

o aperitivo de uma noite amarga.
amigos amargos que
discutem quem fará o elogio fúnebre,
semi-homens amargos tentando roubar suas mulheres,
semi-mulheres amargas se deixando roubar.

me levou 15 anos para humanizar a poesia
mas será preciso mais do que eu
para humanizar a humanidade.

as boas almas não irão fazê-lo
a anarquia não irá fazê-lo
pretos
amarelos
índios
latinos
eles não irão fazê-lo.

acredito na força da mão sangrenta
acredito no gelo eterno
eu exijo que nós morramos
de lábios azuis e sorrindo contra a impossibilidade
de nós mesmos
esticados sobre nós mesmos.

nos encontramos, uma vez,
numa adega escura de Barcelona, mas então
nos separamos. Afinal
algumas pessoas foderão um poste de luz sob
o luar.

meu elogio? quem o lerá? ao menos terei uma
sepultura? quem ficará feliz no meu
enterro? mais um maldito gênio se
foi. idiotas adoram enterrar
deuses.

enquanto isso esperam que minha máquina de escrever falhe,
que meu amor diminua, que minha esperança diminua,
que minha dor aumente.
ah, meus amigos todos me desejam o
melhor das coisas.

idiotas que discursam raivosos de porta em porta
venham todos
para jogar seu veneno especial sobre mim e sobre
as pequenas coisas que são
minhas.

pequenas crianças-rato do universo
aproveitem o fato de que eu vos permiti insultar-me
aproveitem o fato de que eu abri a porta
aproveitem o fato de que eu ou envelheci
ou desapareci com o tempo.

ah, meus amigos
meus amigos
meus amigos.

[by C. B., Trad. Especial para a Clínica do Texto]