Sobre “a poetisa”
A poetisa grega Safo (Psappha - como a própria assinava no dialeto eoliano) nasceu em 612 a.C. na ilha de Lesbos. Foi reconhecida por sua beleza e talento por filósofos como Sócrates e Platão. Boa parte de seus versos glorificava a homossexualidade, fato que fez cristãos destruírem grande quantidade de seus escritos, por se acreditar que as suas poesias eram imorais. As jovens mulheres da ilha de Lesbos que freqüentavam seu círculo literário – de forma a serem iniciadas nas artes da dança, da poesia, da música e também do amor –, compunham o seu círculo de amizades. Formadas por ela, essas jovens a deixariam um dia para se casar.
Escola de hetairas: as cortesãs gregas
Concebeu Safo uma escola para moças, onde lecionaria a poesia, dança e música - considerada a primeira "escola de aperfeiçoamento" da História. Ali as discípulas eram chamadas de hetairai (amigas) e não alunas... E a mestra apaixona-se por suas amigas, todas... dentre elas, aquela que viria a tornar-se sua maior amante, Atis - a favorita, que descrevia sua mestra como vestida em ouro e púrpura, coroada de flores. Mas Atis apaixona-se por um moço e, com ciúmes, Safo dedica-lhe os versos:
Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado,
te contemple e, em silêncio, te ouça a argêntea voz
e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
dentro do meu peito!
Pois basta que, por um instante, eu te veja
para que, como por magia, minha voz emudeça;
sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
e eu sinta sob a carne impalpável fogo
a incendiar-me as entranhas.
Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
soa-me aos ouvidos;o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (...)
fr.74 R
Pôs-se a lua
e as Plêiades; é meia
noite, passa a hora
e eu sozinha estou deitada
------------------
Safo, por Olimar F. Júnior
fr. 1 V
Leia a obraImortal de colorido trono, Afrodite,
filha de Zeus, ardilosa, suplico-te,
não me submetas com gemidos nem angústias,
senhora, o coração.
Mas vem cá, se uma vez
os meus lamentos ouvindo de longe
atendias e, deixando do pai o palácio
dourado, vieste
com a carruagem atrelada: belos te conduziam
ligeiros pardais ao redor da terra negra,
espessas asas agitando do alto,
pelo meio do céu
depressa avançavam. E tu, ó bendita,
sorridente com a imortal face
perguntaste por que sofri
por que chamei
e o que, mais que tudo, quero cultivar
no meu louco coração: "quem, desta vez, pela persuasão
buscas conduzir para tuas relações mais íntimas? Quem,
ó Safo, te faz sofrer?
Pois se foge, rapidamente perseguirá.
Se nem presentes aceitava, logo dará.
E se não ama, rapidamente amará
mesmo não querendo.
Vem até mim também agora, alivia a penosa
aflição e quanto cumprir
meu coração deseja, cumpre: tu, assim,
sê minha aliada.
------------------
Safo, por Jacyntho Lins Brandão
fr. 16 V (v. 1-4)
Uns de cavaleiros armada, outros de infantes,
outros de naus dizem sobre a terra negra
ser o mais belo - eu, aquilo
que alguém ama.
fr. 31 V
Parece-me aquele igual a deuses
ser, o homem que diante de ti
se senta e perto tua doce fala
escuta
e teu riso sedutor - o que, a mim,
o coração no peito dilacerou!
Pois com te olhar apenas, já nada falar
mais me é dado.
Faz-se minha língua em pedaços e, fino,
logo sob a pele um fogo corre.
Com os olhos nada vejo e ribombam-me
os ouvidos.
De mim suor frio escorre e um tremor
toda me prende. Mais verde que erva
estou - e bem morta, por bem pouco,
pareço...
Mas tudo é para ousar...
fr. 34 V
estrelas em volta da lua bela
de novo escondem a luminosa face
quando mais cheia ela brilha
sobre a terra
fr. 47 V
............................. E Eros sacode-me
as entranhas, como o vento de sobre o monte nos carvalhos caindo.
fr. 130 V
Eros de novo a mim, o soltamembros, agita,
doce amargo indomável animal.
Ó Átis: a ti, em mim, fez-se odioso
pensar - e para Andrômeda voas.
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=3449
Bibliografia
· LESBOS, Safo de. Poesia completa. Rio de Janeiro, 1990.
· ANTUNES, A. A. Safo: tudo que restou. Além Paraíba (MG): Interior, 1987.
· FONTES, J. B. Eros, tecelão de mitos: a poesia de Safo de Lesbos. São Paulo: Estação Liberdade, 1991.
· MALHADAS, D. & MOURA NEVES, M. H. Antologia de poetas gregos de Homero a Píndaro. Araraquara: FFCLAr-UNESP, 1976.
· SAFO DE LESBOS. Trad. P. Alvim. São Paulo: Ars Poetica, 1992.